De Elida Bustos

 

Mais centros de medicina nuclear, aplicações inovadoras da tecnologia nuclear em alimentos, dessalinização e projetos de futuros reatores de produção de eletricidade são o panorama que os países latino-americanos apresentam hoje. A Latin Trade entrevistou Iván Dybov, CEO para a América Latina da corporação Rosatom, para conhecer os negócios da empresa russa na região. A entrevista foi conduzida no âmbito do ATOMEXPO, realizado na cidade russa de Sochi.

 

- Quais são as suas expectativas de crescimento da indústria nuclear nos próximos 20 anos?

- Está crescendo em muitas áreas. Não só em reatores, mas também em medicina nuclear, e mais tecnologia nuclear está sendo usada na agricultura. Muitos países da África estão considerando a questão, alguns analisam a construção de usinas nucleares, mas a maioria quer começar com reatores de pesquisa, para medicina nuclear. Nesse sentido, a América Latina é muito desenvolvida: a Argentina é líder em medicina nuclear e, em alguns casos, nossa concorrente na produção (de radioisótopos na região), o Brasil está crescendo muito. Nós fornecemos a eles radioisótopos toda semana (para uso medicinal) e começamos a exportar o césio, que mostrou ótimos resultados para o tratamento do câncer de próstata.

 

- Que infraestrutura a Rosatom vendeu para a Bolívia?

- Estamos fazendo um grande progresso com a ABEN (Agência de Energia Nuclear da Bolívia), que é nossa parceira na Bolívia. O contrato inclui um reator de pesquisa, um cíclotron, câmara gama e uma instalação de irradiação multifuncional que pode ser usada para esterilização, tanto de alimentos quanto para melhorar a qualidade de alguns materiais.

 

- Como a equipe será treinada para gerenciar essas instalações?

- Temos um programa de treinamento abrangente. Eles vão para a Rússia para estudar e nossos especialistas viajam para a Bolívia para dar palestras. Estamos preparando, junto com nossos parceiros bolivianos, especialistas em todas as áreas que precisam operar este centro nuclear. No ano passado, cerca de 30 pessoas viajaram para a Rússia para treinar.

 

- Qual é a situação no Brasil em relação às usinas nucleares?

- O Brasil está tomando decisões sobre Angra III. É um projeto que precisa ser concluído. Eles estão procurando um modelo de negócios que seja aceitável. Ao mesmo tempo, eles já anunciaram que estão incluindo no programa nuclear a construção de novas usinas nucleares, provavelmente no norte. Eles estão falando sobre seis.

 

- Qual é o estado da medicina nuclear no Brasil?

- O Brasil é um dos nossos principais clientes. Toda semana nós fornecemos radioisótopos de iodo e molibdênio e começamos a vender césio e alguns radioisótopos para uso industrial, não apenas medicinal. Estamos trabalhando nessa direção e veremos como o mercado se desenvolve, porque é enorme. Talvez nós não seremos apenas fornecedores, mas veremos alguma forma de parceria para produzir radio fármacos, então estamos analisando como expandir neste mercado.

 

- Isso significa aventurar-se em reatores de pesquisa?

- Não apenas em reatores de pesquisa. Pode ser um cíclotron. O Brasil possui um cíclotron e produz radio fármacos. Nós fornecemos matéria-prima. Estamos interessados ​​em cooperar nesta área.

 

- Você tem negócios com o Peru?

- Construímos um centro de irradiação com fontes gama nos anos 90. Eles estão satisfeitos com o seu funcionamento e querem construir mais. Eles usam isso para muitas coisas, principalmente para vegetais, peixes. É um centro multifuncional que tem muitos clientes e os ajuda na produção agrícola. No caso de Cuba, estamos discutindo um modelo de negócios para uma joint venture (empreendimento em conjunto) para irradiação de produtos agrícolas e frutas.

 

- Você mencionou o interesse do Equador pela tecnologia nuclear

- Estamos iniciando conversas. Eles são muito ativos na Agência Internacional de Energia Atômica. Eles participam de programas técnicos para preparar o país no uso da tecnologia nuclear na medicina e agricultura, escrever leis ... A maioria dos países quer melhorar sua medicina nuclear, primeiro porque em alguns a capacidade que eles têm é muito baixa e as pessoas precisam dos tratamentos. Agora estamos falando para ver como resolver o problema da água potável, utilizando a tecnologia nuclear (em projetos de dessalinização da água do mar).

 

- Rosatom assinou um acordo com o Chile sobre o lítio. Por que a Rosatom está interessada em lítio?

- O principal negócio da Rosatom é nuclear, mas está desenvolvendo outras áreas nas quais tem alguma competição. Gostaríamos de desenvolver o negócio de baterias, para fornecer a Rússia, mas precisamos da matéria-prima e o Chile é muito avançado (em produção). Eles organizaram duas licitações e convidaram empresas estrangeiras a contribuir com projetos de alta tecnologia. Lá nós participamos. Gostaríamos também de algum projeto com a Argentina porque também tem minas e empresas trabalhando.

 

- Você tem negócios com o México?

- No México, fornecemos 100x100 de urânio enriquecido para a usina nuclear (Laguna Verde). Nós ganhamos uma proposta.

 

- E em outros países da região?

- Nós temos conversas com o Panamá, República Dominicana, Cuba. A Nicarágua está interessada em melhorar a medicina, eles querem ver como desenvolver seu setor de medicina nuclear. Para esses países, o interesse está focado na medicina nuclear e na agricultura porque eles já têm seu sistema elétrico organizado e não são grandes o suficiente para precisar construir usinas nucleares.

 

- Rosatom desenvolveu uma usina nuclear flutuante e o tema está contido no memorando de entendimento com a Argentina. Por que esse tipo de planta serve a Argentina?

- Acreditamos que pode ser útil para o país. Pode ser um projeto conjunto. A Argentina tem grande capacidade de construção naval. É uma indústria forte. Nós podemos fornecer a parte nuclear e a planta poderia ser usada em diferentes países da América Latina, para dar luz às cidades costeiras.

 

Fonte: Latin Trade